A Globalização, dentre outros paradigmas, marcam um aspecto
fundamental da actualidade: a transformação no mundo do
trabalho, a partir da década de 1980 e que resulta do processo
de uma política de cunho neoliberal, onde o "sujeito"
não é mais o trabalhador, mas o mercado e a sua busca
desenfreada pelo lucro. Tal política, tem levado as camadas de
mais baixa renda à exclusão do processo económico e social. O
que por outro lado tem criado condições para o surgimento de
uma nova categoria : a dos trabalhadores no mercado da economia
informal criminal, sendo que o crime organizado aparece como a
grande empresa que hierarquiza e distribui as funções destes
trabalhadores, notadamente no Estado do Rio de Janeiro.
Quando nos referimos ao crime organizado, apontamos para uma
modalidade específica : o tráfico de drogas. Em termos de
"(
) América Latina , os estudos sobre as principais
formas de violência do mercado informal ilícito ou criminal
têm se concentrado sobre as grandes regiões produtoras e/ou
distribuídoras de drogas, como a Colombia e o Peru, em suas
articulações com a guerrilha e a "violência
generalizada". No Brazil, cujas metróles urbanas têm
assistido a um incremento do consumo e da distribuição de
cocaína desde o início dos anos 80, a questão do mercado
informal das drogas ganhou relevância pelo facto de que lhe é
imputada a principal responsabilidade pelo notável aumento da
violência nas grandes cidades, especialmente no Rio de Janeiro,
desde o final dos anos 70"(MISSE,M., 1997:93).
Posto isto, nossa intenção é fazeruma reflexão de como esta
nova categoria de trabalhadores tem servido como o sustentáculo
de grandes emprtesas criminosas e conseguido manter o sustento de
milhares de pessoas na Estado do Rio de Janeiro. Enfim "é
essa força intríseca do mercado informal ilegal do Rio, uma
força que reune entre 200 mil a 400 mil trabalhadores e muitas
centenas de pequenos e grandes empresários, que continua a
desafiar a maior parte das análises"(MISSE,op cit: 110).
Partimos do pressuposto de que, esta situação se iniciou a
partir da transferência da capital federal do Brasil - que antes
era o próprio Rio de Janeiro - para Brasília a partir de 1960,
o que provocou uma redefinição da pobreza no Estado Fluminense.
Isto reforçou os negócios ilegais/criminosos, dando um tom
empresarial à organização do crime e gerando o que chamamos de
trabalhadores bandidos. Evidenciamos isso, quandonos deparamos
com categorias do tipo: gerente, fogueteiro, olheiro, soldado,
vapor, aviões, empacotador, contador, dono do negócio,
etc
As considerações acima, nos indicam a relação
trabalho/criminalidade, tendo como resultado a violência. Muitas
vezes, advinda do acerto de contas entre quadrilhas, do confronto
entre polícias e traficantes ou mesmo de execuções de
individuos ou mesmo de execuções de individuos que ousam
desobedecer as regras internas da organização. É interessante
que este mercado ilícito do trabalho seintensifica, à medida
que "(
) as forças produtivas vão ( tornando )
disponível uma quantidade cada vez maior do tempo de actividade
humana potêncial. Mas com que finalidade ? A do desemprego, da
marginalidade opressiva, da solidão , da ociosidade, da
angústia, da neurose, ou a da cultura, (
)(GUATTARI,
F.1993:8/9)?
É plausivel as elucidações de Guattari para explicar que ao
integrarem o mundo do mercado ilegal do tráfico, os indivíduos
passam a produzir novas formas de subjectividades. Nos seus
dizeres ( de Guattari), existe uma revolução subjectiva, embora
neste caso, nem sempre as práticas sociais estejam voltadas para
o melhoramento humano. Neste sentido, o que observamos, é que a
camada carente, notadamente crianças e jovens na faixa dos 10
aos 25 anos, ligam-se ao tráfico de drogas, não apenas buscando
recursos económicos. Buscam também, formas de pertencimento a
um grupo que os valorize e não resta dúvida que, o tráfico se
organiza de um modo que os que chegam encontram solidariedade.
Tem-se então que, esses trabalhadores bandidos, na faixa etária
precoce , adentram neste mercado, porque os recursos financeiros
obtidos lhes permitem existirem enquanto consumidores. Isto, como
frisou Guattari, cada vez mais as forças produtivas excluem do
mercado de trabalho formal, principalmente os incapacitados
profissionalmente. Notamos ainda, que este processo de
subjectivação a que estes indivíduos estão submetidos, os
deixam alienados quanto à forma como vêem nas práticas deste
trabalho, a chance de adquirirem poder pela arma de fogo. E ainda
iludidos de qu , detendo poder, acreditam , afirmar sua
identidade e virilidade masculina.
Deduzimos então que em termos de subjectividade, não há a
menor valorização/preservação pela vida, parece que o desejo
volta exclusivamente para a obtenção de status, o qual só pode
ser atingido através do suprimento da sua materialidade. Ou seja
, eles têm consciência de que neste mundo que escolheram para
trabalhar não hà longevidade para suas vidas. Há, por assim
dizer, uma aceitação pelas normas contratuais de trabalho, onde
a rescisão é a morte prematura, uma vez que não se tem
notícia de nenhuma pessoa que tenha trabalhado no tráfico e que
tenha vivido além dos 35 anos.