I CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA ECONÓMICA

 


Desigualdades Sociais e Economia Em Angola: a Pobreza e Exclusão Social



Indo de encontro com uma intenção manifestada através de uma correspondência trocada entre o autor da comunicação e o presidente de SOCIUS, o Doutor J.M.Carvalho Ferreira (cuja cópia se anexa) no sentido de se manter uma colaboração entre esta instituição e outras similares angolanas nos vários domínios da sua vocação científica no sentido de fortalecermos os nossos contactos nesta matéria do saber, nós nos sentimos motivados em particular neste evento. Os laços existentes entre Angola e Portugal ao nível das duas sociedades e suas respectivas economias, pela peculiaridade que as caracterizam não levantam em si obstáculos maiores para se poder encontrar uma forma conveniente de se enquadrar nos temas propostos a discussão embora o congresso em si seja português.
Numa era da globalização das economias e da promoção e troca de experiência e conheciementos no seio da Comunidade Lusófona, esta presença em si só pode ser bem-vinda e a iniciativa não inoportuna.
Ao apresentarmos a nossa comunicação, pensamos realizar de princípio um brevíssimo sobrevoo relâmpago apenas para tentar estabelecer uma ponte com outros subtemas. E assim pensamos em salientar que a sociologia económica aflui como ciência nova, ciência de fronteira entre a sociologia e a economia: tipo de relação interdisciplinar entre as duas disciplinas de ciências sociais.
Cumpre definir uma e outra para o terreno comum que é o da sociologia económica.
Arrojada é a empresa da delimitação das fronteiras. Cientistas sociais como Ch. Bettlhem, A.G.Papaandreou, Parsons, J.Cuisimier, André Nicolai, G. Palmade, J. Maynand procuraram estabelecer esta ligação entre as duas disciplinas. Ademais Levy esclarece a diferença entre sociologia e economia procurando situá-la em três aspectos:
a) o ponto de vista da realidade
b) o estatuto científico
c) a natureza do facto estudado

Em relação a este último ponto podem-se distinguir factos que por natureza são económicos: produção, repartição, consumo. Outros são sociais: costumes, grupos, relação de poder.
Muitos autores de inspiração tão diversa como Marx, keynes e sobretuso Schumpeter estabeleceram relações entre a economia e a sociologia. Sem esquecer em destaque a obra de Françoies Perroux, André marshall e outros não citados. Falando propriamente da economia e sociedade em Angola isto nos leva a encarar a nossa apresentação numa óptica que se circunscreve a três dimensões de tempo. A época colonial, a situação pós-independência e a instauração do sociolismo em Angola, enfim, a transição a regime de governação dito de democracia e a instauração da economia de mercado, sem descurar os aleas e ciladas e riscos de uma sociedade desgastada por uma "guerra-negócio" prolongada, e as desigualdades geradas em consequência.
Na nossa comunicação destacaremos um facto que não deixa de despertar atenção nos últimos tempos em Angola: o surgimento de vários trabalhos de estudiosos com incidência na interacção entre economia e sociedade entre os quais São Vicente, Fátima Roque, Adriano Parreira, José Carlos Venancio e Alves da Rocha. Este último com uma menção à sua recente obra lançada em Luanda no mês de Setembro aquando do aniversário da emissora LAC (Luanda Antena Comercial).
Nós não podemos deixar de destacar a situação privilegiada de Angola, com uma dotação diversificada de principais recursos naturais (petróleo, diamantes, ouro, ferro, manganês, cobre, mármores, etc.), uma agricultura rica, as florestas, pesca, uma faixa marítima rica; sem dúvida este país dispõe dos melhores trunfos para enfrentar os desafios de um desenvolvimento sustentável e harmonioso. Com um potencial humano e demográfico razoável, uma população estimada aos 12,5 milhões de habitantes ayé ao ano 2000. Angola tinha antes de 1975 uma auto-suficiência alimentar e dispunha de um excedente para a exportação. A transição do país para a independência foi de uma tal brutalidade, mergulhou o país numa crise que se arrasta há mais de 20 anos, desvilumbrar uma perspectiva airosa a curto prazo.
A saída dos portugueses em 1975, o abandono das populações dos meios rurais e a acumulação destas (deslocados) nas cidades, e com a intensificação da guerra ao longo dos anos, trouxe consigo calamidades e desequilíbrios sociais incomensuráveis, com um quadro geral deseolador. Paradoxalmente e, por íncrivel que pareça, no quotidiano da vida nas cidades depara-se com manifestações e comportamentos de ostentação de riqueza e opulência com uma exuberância escandalosa que contrasta com um apenúria extrema frisando uma indigência patente e uma mendicidade a todos os cantos de ruas; crianças abandonadas pululando e à procura de amparo, convivendo com um asbanjamento sem escrúpulo.
Qual é a relação existente entre a situação económica que o país atravessa e a crise que agrassa a sociedade? Quais as causas e factores destas desigualdades sociais, concernentes e a lógica da exclusão subjacente?
São estas, em resumo, o fio condutor das respostas que tentaremos encontrar a esta série de questionamentos que levantamos?




João Baptista Lukombo Nazatuzola

 

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