Indústria de Transformação
de Madeira-Empreseralismo e Desenvolvimento |
A realidade do tecido industrial português, assente
fundamentalmente em PMEs e micro-empresas, se por um lado
constitui um obstáculo ao aproveitamento de efeitos de escala
que, em muitos negócios, são ainda peça importante da construção
de vantagem competitiva, por outro configura-se como uma base
possível para a exploração de benefícios decorrentes da
flexibilidade, normalmente, associada à reduzida dimensão.
Reconhecidamente, porém, o inconveniente referido em 1º lugar
parece não ter sido, até ao momento, razão suficiente para uma
opção clara pelas virtualidades da segunda via.
É assim que, conforme se pode constatar, são privilegiadas
quase exclusivamente as relações verticais, características da
concepção clássica da fileira económica, não sendo,
normalmente, reconhecido qualquer papel estratégico às ligações
de carácter horizontal, mais consonante com a moderna concepção
de cluster.
A exploração do tema no âmbito do caso concreto da Indústria
de Primeira Transformação da Madeira, e particularmente do
contributo do seu empresariado, será o tema central deste
trabalho, com resultados obtidos a partir de uma investigação
empírica na Região Centro.
O caso da Indústria Portuguesa de Primeira Transformação da
Madeira
O ambiente estrutural
A floresta representa para Portugal, a par do mar, o seu
principal recurso renovável. De entre todas as actividades
instaladas em torno deste recurso salientam-se, pela sua relevância
no conjunto da economia nacional, as indústrias de transformação
de madeira. A indústria de serração de madeiras, como segmento
de primeira transformação, tem apreciável impacte nas indústrias
a jusante mais directamente relacionadas, como a carpintaria, o
mobiliário, etc..
Referem-se seguidamente as principais características genéricas
da indústria de serração, em termos de ambiente estrutural:
· Grande número de empresas de dimensão variando entre
muito pequena e média;
· Não existência de claros líderes de mercado;
As principais causas "detectadas" para a existência
deste tipo de ambiente são:
· Barreiras de entrada fracas;
· Ausência de economias de escala;
· Custos de transporte elevados;
· Custos de armazenamento elevados;
· Elevado número de pequenos produtores-fornecedores de madeira
sem tradições de organização ou concentração;
Perante as características apontadas, a Serração de Madeiras
portuguesa apresenta-se como uma indústria fragmentada formada
por um conjunto de micro-empresas e PMEs.
As Empresas
O universo empresarial da indústria de serração é, portanto,
constituído por um grande número de unidades, devendo
registar-se adicionalmente o facto de se tratar de um conjunto
maioritariamente constituído por empresas familiares.
A concentração em produtos de baixo valor e altamente
standardizados, tem impedido esta indústria de aproveitar
estrategicamente os benefícios decorrentes da flexibilidade,
factor importante perante as frequentes alterações dos
mercados. Assim, a rivalidade entre as empresas, ao invés de ter
promovido o desenvolvimento e a sofisticação dos produtos, não
tem passado de mera disputa para o escoamento, nas melhores condições,
de um mesmo conjunto de produtos .
Os Empresários
Fruto da abundância de matéria-prima e da iniciativa de alguns
elementos mais dinâmicos cuja formação tem assentado
exclusivamente na experiência acumulada, essas empresas
apareceram e têm mantido o seu cariz familiar ao longo da sua
existência. Porém, devido a estas mesmas características, a
partilha interna de conhecimentos tende a ser encarada como uma
ameaça ao tradicional papel do "patrão", em torno do
qual todas as decisões relevantes orbitam.
Revelando atitudes pouco empreendedoras, avessas ao risco e de
grande independência, os empresários da Indústria de Serração,
não têm também promovido, praticamente, quaisquer
investimentos em recursos humanos capazes de desempenhos ao nível
da gestão intermédia. Mesmo em relação aos elementos
existentes com maior responsabilidade técnica ou administrativa,
não há normalmente qualquer delegação de responsabilidade ou
margem de manobra. O poder aparece assim particularmente ligado
ao conhecimento técnico, sendo o desempenho função directa do
nível de conhecimento de quem "manda". Neste contexto,
acções "exteriores" de formação profissional tenderão,
por motivos óbvios, a ser consideradas pouco importantes,
independentemente da sua real valia.
Esta situação, decorrente em particular do baixo nível de
auto-crítica de muitos dos empresários tem, reconhecidamente,
funcionado como um dos principais obstáculos ao indispensável
desenvolvimento dos recursos humanos e, portanto, do desempenho
considerado aos diversos níveis.
O tipo de gestão praticado, quase sempre baseado em perspectivas
de curto prazo e tentando aproveitar hipóteses de negócio, por
vezes em áreas que ultrapassam o âmbito da própria serração,
se, por um lado, apesar de toda a "turbulência", tem
assegurado em muitos casos a sobrevivência, por outro tem
contribuído para a deficiente exploração do potencial económico
da actividade.
Parece assim que as restrições a um maior desenvolvimento e a
afirmação empresarial se situam, não principalmente no plano técnico
ou até económico, mas sim a nível sócio-cultural.
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ANTÓNIO
ROBALO
ANTÓNIO JOSÉ FIGUEIREDO