I CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA ECONÓMICA

 

 

Design, Inovação e Formulação Estratégica: Como Integrar na Perspectiva da Mudança



O enquadramento Português
A principal restrição de carácter microeconómico sobre o desenvolvimento industrial português é constutuída pela difusão generalizada de um modelo de concepção da actividade industrial reduzido ao núcleo central das actividades de transformação.
O alargamento da cadeia exige uma desmaterialização das concepções da actividade industrial. Esta mudança de visão é fundamental para acompanhar de forma inovadora e com margem de autonomia possível, a progressiva afirmação da procura como grande pólo dinâmico do crescimento económico (MATEUS et al. 1995).
Estudos recentes sobre as PME industriais portuguesas, confirmam que as principais barreiras à inovação não decorrem tanto da falta de capacidade tecnológica em sentido estrito, mas sobretudo de limitações da capacidade empresarial, da gestão comercial e da aprendizagem (SIMÕES 1995).
As características das PME impõem a adesão a metodologias de formulação estratégica baseadas na flexibilidade e na criatividade e numa grande capacidade de leitura do ambiente externo.
Qual é o papel do design?
Todos os produtos têm design. "Eles podem não ter sido objecto de execução por designers profissionais, mas alguém tomou uma série de decisões que resultaram num determinado produto, com uma aparência, custo e função particulares". (WALSH 1995)
É necessário dar uma atenção particular aos processos envolvidos, não só porque se poderá conseguir uma integração com as outras áreas disciplinares, mas também porque "the process is a determinant of style (...) what we ordinarily call "style" may stem just as much from these decisions about the design process as from alternative emphases on the goals to be realized through the final design". (SIMON 1990)
"The alarming increase in the rate of innovation and change, mainly in science and technology, and the growing responsability of design to ensure that the outcomes are fruitful" (GORB 1995), funcionando como regulador do fluxo de criatividade.
"Minding is designing"
Nesta metáfora Krippendorf (1991) sintetiza a mudança de paradigma em relação ao papel do design. Esta deixou de ser uma actividade para fazer objectos visualmente apelativos e subordinados à função, para se tornar num processo de criação de interfaces que façam sentido na prática social de viver com objectos.
O design permite que os utilizadores criem sentidos / significados para os objectos, porque só eles podem encontrar os contextos.
Não só existem significados diferentes para diferentes utilizadores, como também estes evoluem no tempo em resultado de experiências que vão provocando mudanças dos sistemas cognitivos.
Em resultado da miniaturização de componentes e sistemas e da banalização da tecnologia, nos produtos electrónicos, por exemplo, não mais a função determina a forma, permitindo uma diferenciação levada ao limite, uma vez que as fábricas de produção flexível tornam possível as economias de gama e as pequenas séries, diminuindo o número de produtos similares no mercado.
Com a interpretação de produtos como comunicações, a metáfora conduz-nos à compreensão de objectos como "mensagens em circuito" (BATESON 1972), como padrões temporariamente imobilizados, que podem ser úteis para os participantes, disponíveis para diferentes práticas. Um conceito de organização social e de gestão no qual as responsabilidades estão distribuídas entre os participantes, numa rede circular de produção e consumo. O design deve ser instilado no espírito da organização e expresso na sua identidade corporativa.
Desta forma, pode-se pensar que a gestão do design, e a própria gestão das empresas que fazem do design um instrumento estratégico, devem manter em aberto circuitos de recursividade que, para além dos símbolos, permitam a reelaboração constante dos seus conhecimentos.
O design como impulsionador da formulação estratégica
"O bom design é um sintoma de que outras coisas mais importantes estão certas, tais como as pessoas, a organização, a estratégia, o cash flow, o equilíbrio das competências, atitudes e motivação". (MINTZBERG e DUMAS 1989)
A formulação estratégica e o design podem ter metodologias de trabalho semelhantes, defende-se neste ponto que a introdução do design , de forma organizada, na empresa, é uma condição impulsionadora da formulação estratégica, pela sua semelhança metodológica, pelo seu carácter sistémico e pela orientação para a interacção com o consumidor.
O que se defende nesta comunicação é que, pelas suas características, a introdução do design constitui um processo pelo qual a organização acede a um nível superior de inteligência, e que essa elevação se faz a partir de um conjunto de ciclos de aprendizagem dos actores do processo, a um nível tácito, pelo menos nas fases iniciais.
O processo de design é, por natureza, gerador de mudança, na sua lógica intrínseca de criação. Esta deve serr relacionada com a empresa, sujeita a recriar de forma dinâmica a sua oferta.
A política industrial
O desenvolvimento de novos produtos é uma actividade ingrata, no sentido que do ponto de vista da empresa o seu sucesso no mercado, factor de peso superior na avaliação, é de grande aleatoriedade, e esta é ainda maior numa fase de mudança organizacional.
Deste ponto de vista, o papel do estado, principalmente através da política industrial, mas não só, é o da partilha de riscos e investimentos (num sentido amplo):
1. Através dos impactos das políticas fiscais (cargas fiscais menores aplicadas às práticas inovadoras), adequadas políticas de ciência e tecnologia e na educação e formação.
2. Através de instrumentos específicos. Deste ponto de vista, os dois programas PEDIP, poderiam ter sido exemplares nesta área. Os vários estudos de avaliação do primeiro identificaram que tal não aconteceu, tendo sido dado especial relevo à inovação tecnológica, e entre ela aos elementos directamente produtivos.
Existem duas questões básicas que interessa sublinhar:
1. As empresas necessitam chegar a mercados maiores e mais exigentes, que permitam maiores investimentos em inovação e em design. A internacionalização é deste modo entendida como fundamental.
2. Do ponto de vista das empresas, o processo é arriscado não sendo possível esperar quea assimilação genética ao nível da população seja suficiente, é necessária uma adequada gestão do contrexto:
a) Partilha de riscos com o estado.
b) Instituições empenhadas na concretização das transformações.
Desta forma será possível esperar das empresas maior ousadia e confiança na formulação de estratégias inovadoras nos mercados, nos factores chave de competitividade e na gestão dos recurso, aspectos fundamentais para a mudança empresarial.



José Manuel Pereira Ferro Camacho


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