MODELOS DE REDES DE
DISTRIBUIÇÃO INFORMAL : o caso SULANCA, uma experiência
de redes produtivas no nordeste brasileiro. |
A proposta deste ensaio é
discutir um tema regional de economia informal, mais
especificamente do nordeste brasileiro, onde se vem desenvolvendo
desde a década de 60 uma experiência terceiro mundista de
desenvolvimento de uma comunidade produtiva, cuja genese e evolução
natural, espontânea , difereb substancialmente do modelo
tradicional dos distritos industriais criados artificialmente.
Dentre as cidades que apresentavam esta conduta, destacava-se
Santa Cruz de Capibaribe, pequena cidade do vale do Ipojuca que,
até alguns anos atrás era inexpressiva no contextourbano do
Estado de Pernanbuco, no sertão brasileiro.
A cidade apresentava um crescimento urbano virtiginoso, revelado
por taxas de crescimento da população urbana na ordem de 5,5%
entre 1960/70 e 7,7% entre 1970/80 (SEBRAE, 1993), fato incomum
à realidade urbana do Estado, principalmente fora da Região
Metropolitana do Recife.
Verificou-se também que esse crescimento estava relacionado com
a actividade de confecções de vestuários que se desenvolvia
neste centro e que nos últimos anos vinha-se expandindo de
maneira acelerada, propriciando à cidade padrões de crescimento
e de comportamento singulares.
Esse comportamento não é comum, principalmente quando se trata
de uma cidade do Agreste (sertão), onde as mudanças nas relações
de produção no campo tem propriciado um esvaziamentodemográfico
do seu segmento rural. O Agreste tornou-se numa das Regiões de
maior emigração do Estado de Pernanbuco. Os centros urbanos
dessa região vêm recebendo crescentes contingentes de população,
sem contudo poder incorpora-los nos sectores formais da
actividade económica, daí o crescimento do circuíto inferior
da economia na vida urbana dos países subdesenvolvidos, como os
da região em estudo.
Santa Cruz do Caribe apresenta-se portanto, como um caso atípico
no Estado de Pernambuco, porque os contingentes expulsos do campo
são progressivamente incorporados à vida urbana através de uma
actividade catalizadora, a de confecção de roupas. O caso torna
amplas proporções e os meios de comunicação começam a
divulgar Santa Cruz do Capibaribe como exemplo de uma cidade onde
não há desemprego.
Evidentemente, vários estudiosos de áreas afins como
sociologia, antropologia, geografia, entre outros, face à
singularidade apresentada, têm tentado compreender o fenómeno.
Desse modo , surgiu em nós a necessidade de conhecer esta
problemática com mais clareza, procurando-se observar as causas
da expansão dessa actividade e de seus reflexos tanto no nível
sócio- económico como no campo comercial. Nosso objectivo é,
pois, discutir os modelos de redes de distribuição da produção
informal a partir do caso concreto da experiência da SULANCA.
Diante destes propósitos estabelecemos as seguintes hipóteses:
· crescimento urbano em Santa Cruz do Capibaribe está
intrinsecamente relacionado com a actividade das confecções;
· a actividade de confecções tem forte interdependencia com o
desemprego estrutural, em função do modelo de acumulação
adoptado no país;
· a actividade de confecções no municipio é coerente com a
expansão do sistema capitalista, apresentando-se como forma
específica que a população encontrou para a sua sobrevivência.
María
Orduña
Elizabeth Matos Ribeiro