I CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA ECONÓMICA

 

 

Economia à deriva, sociologia à vista? O caso de Marnoco e Sousa.



A partir de meados do século XIX, a crise da economia política era por demais evidente: onde anteriormente se afirmara a hegemonia incontestada da escola clássica (inglesa ou francesa), aparecia agora um universo tumultuoso de escolas e grupos de opinião. É neste contexto que a sociologia se apresenta senão como a única alternativa, pelo menos como uma das mais solidamente estabelecidas no plano científico.

Portugal não foi de forma alguma imune a esta situação de grande conflitualidade no campo das abordagens do social. Para além da conhecida transformação verificada no campo da filosofia do direito na Universidade de Coimbra, o próprio ensino da ciência económica ressentiu-se da indefinição então vigente. Na ausência de mestres verdadeiramente carismáticos, flutuando ao sabor das pressões e da informação disponível momento a momento, a credibilidade da economia política - já para não falar da sua popularidade - parecia irremediavelmente comprometida.

Coube a Marnoco e Sousa a delicada tarefa de pôr cobro a tal estado de coisas. Sem descurar os contributos (e as pressões) de índole sociológica, demarcando-se criteriosamente dos excessos que pontuavam muitos dos desenvolvimentos contemporâneos da teoria e da doutrina económica, manifestando uma grande sensibilidade para as pulsões institucionais, Marnoco e Sousa conseguiu no decurso de uma curta mas profícua carreira académica não apenas estancar a deriva do ensino da economia política, mas também assegurar um bastião de resistência a muito do sociologismo então reinante. Fazendo-o, demarcando os campos e as formas de contacto entre a economia política e a sociologia, prestou um inegável serviço ao desenvolvimento e ao cultivo posteriores destas duas ciências do social.

Nesta comunicação, serão detalhados os principais aspectos do processo acima enunciado, bem como da actuação concreta de Marnoco e Sousa.




Political economy adrift, sociology on the horizon? The case of Marnoco e Sousa



Around mid-nineteenth century, the crisis of political economy became manifest. Where the classical school (english or french) had previously reigned unchallenged, an unruly multitude of schools and groups of opinion now confronted each other in the study of economic activity. In this context, sociology turned out to be, if not as the only guiding line, at least as one of the most firmly established alternatives in the domain of social sciences.

Portugal also experienced the effects stemming from the conflicting nature of the approaches to the study of social phenomena. As part and parcel of the changes in the field of philosophy of law at the Universidade de Coimbra, the teaching of economic science reflected the prevailing indefinition. In the absence of charismatic masters and at the mercy of several pressures and the available information, the credibility of political economy seemed irremediably compromised.

It must be credited to Marnoco e Sousa the delicate task of having put an end to such situation, throughout a short yet fruitful academic career. Without neglecting the contributions (and the pressures) of a sociological nature, carefully keeping his distance from the excesses found in many a contribution to economic theory and doctrine , and showing a great inclination for the institutional questions, Marnoco e Sousa not only managed to give direction to the teaching of political economy, but also succeeded in securing a stronghold of resistance against the sociologism then prevailing. In doing this, he helped to demarcate the fields and the forms of contact between political economy and sociology, and thereby rendered an important service to the subsequent development and study of these two social sciences.

In this paper, we will provide details regarding the crisis of political economy referred to above, as well as details regarding the role of Marnoco e Sousa in bringing the teaching of political economy to a safe anchorage.




António Almodovar e Maria de Fátima Brandão - FEUP


  Voltar ao topo