As crises económicas a partir dos anos 70 representam para o
capital um grande desafio.
O fracasso do Estado no controle da economia fez ressurgir a
crença no poder do mercado sobre a alocação óptima dos
recursos escassos. Na visão dos liberais, a crise económica em
si não existe. O que existem são desajustes temporários
causados por factores externos à economia, como a acção
estatal, que deve, portanto, ser restringida.
A abertura da economia ao mercado externo, a desregulamentação
e privatização de empresas públicas é a solução defendida
pelos tomadores de decisão nos rumos da economia e da sociedade.
No nível microeconómico, as empresas se reorganizam para
adaptarem-se ao modelo de desenvolvimento voltado para fora e à
produção flexível.
Como resultado da crise, as empresas passaram a exercer uma
redução forçada da utilização de equipamentos e insumos, o
que reduz as margens de lucro, devido à manutenção de custos
fixos de produção. Diante das perdas, o capital promove uma
reestruturação das empresas, reduzindo ao mínimo necessário
todos os coeficientes técnicos de produção.
No nível macroeconómico, com a abertura do comércio
internacional, empresas individuais e ramos da indústria perdem
terreno relativo, enquanto outras ganham terreno. Como num jogo
onde há perdedores e ganhadores, as empresas perdedoras são
fechadas ou incorporadas; as ganhadoras promovem aquisições e
fusões. Empresas industriais nacionais, firmas estrangeiras e
bancos internacionais integram suas actividades nos mercados
mundiais, promovendo uma maior centralização e concentração
da economia.
A reestruturação da economia (macro e micro) desmonta velhos
conhecidos paradigmas; formas de organização do trabalho e a
segurança do salário são postas em xeque. A competição do
capital se acirra; a sua internacionalização se combina com as
formações de blocos regionais (Mercosul, Nafta, União
Europeia).
Empresas transnacionais integram suas operações com empresas
locais, num processo de geração de complementaridade,
racionalizando etapas de produção, tendo como objectivo a
redução de custos, de desperdícios e de insumos. Ou seja,
factores objectivos e subjectivos do trabalho são economizados,
enquanto a produtividade aumenta.
Postos de trabalho são eliminados enquanto outros são criados;
a horizontalização da produção e da gestão elimina
hierarquias, equipamentos, qualificações etc.. O mercado de
trabalho se reestrutura com novas demandas quantitativas e
qualitativas de qualificação, de género, idade e etnia.
Contudo, o desenvolvimento das forças produtivas cada vez mais
adquire condições de eliminar a escassez e aponta para as
possibilidades de se produzir riqueza suficiente para o
suprimento das necessidades reais e imaginárias da maioria da
população. À classe trabalhadora organizada, cumpre, então,
discutir e encontrar formas de participar dos frutos produzidos
pela reorganização económica internacional.
O propósito deste "paper" é justamente contribuir
para a discussão sobre os novos desafios que o trabalho enfrenta
no limiar no novo milénio.
Graziela de Oliveira