O nosso enfoque de anà lise incide nos processos de
recomposição social de dois grupos de etnia cigana ( um
localizado no concelho de Espinho, e o outro, no bairro S. João
de Deus , na cidade do Porto) ao longo das duas ultimas
gerações, nomeadamente ao nível da composição sócio
profissional, observa-se então, que as mutações ocorridas na
matriz intergeracional apresenta ligeiros e circunscritos
processos de recomposição social ao nível da estrutura
sócio-profissional intergerações. A partir de modo de vida
caracteristicamente nómada que durante séculos se identificou
com este grupo étnico, forjaram-se outrora ofícios tradicionais
como a cestaria e o comércio de gado, a venda porta a porta a
porta , que foram dando lugar a um modo de vida sedentarizado
(por pressões de medidas e pr´ticas de reclusão e
assimilaçaõ subtis), e a outros perfis profissionais, como o
feirante, o vendedor no domicílio do clienteo
comerciante/patrão/proprietário de um estabelecimento e o
profissional das artes do espectáculo. Particularmente
vulneraveis aos periodos de dificuldades económicas e de
instabilidade social, o grupo étnico cigano tem protagonizado
deste modooutras estratégias de sobrevivência. O olhar
tendencialmente etnocentrista que se lança do exterior, capta
uma espécie de homogeneidade ao nível das praticas económicas
exercidas pelo grupo étnico cigano, concebidas como inadaptadas,
tradicionais, desvalorizadas, marginais; não captando o
dinamismo a iniciativa , a inovação, a maleabilidade que
caracteriza o exercício das suas actividades económicas em
circunstâncias marcadas por uma insegurança permanente por um
tratamento discriminatório secular.
Ao averiguar a forma como o grupo concebe o trabalho
constata-seque tal concepção é fortemente determinada pelas
características da sua própria organização social, que se
fundam na família extensa. A quele que não é consebido como um
objectivo, ou como uma dimensão de realização pessoal e
social, mas apenas como uma condição indespensável à
sobrevivência quotidiana. As actividade económicas são
desenvolvidas conjuntamente pelos membros das diferentes
gerações do grupo familiar, proporcionando aos individuos um
sentimento de forte independencia e uma larga margem de liberdade
na forma de gerir o seu tempo. Embora, o modo de vida dos grupos
interrogados não se identifique com o nomadismo, a liberdade
geográfica e a viagem assume particular relevancia, enquanto
estratégia necessária à procura de novas opurtunidades de
negócio , novos produtos e postos de venda, bem como outros
clientes e fornecedores, condição sine qua non à subsistência
económica e social do grupo familiar.
Maria M. F. Mendes