Com base na experiência de investigação de processos de realojamento no concelho de Oeiras, fomos levados a desenvolver a noção de "precariedade residencial" enquanto dimenção que particulariza a forma de instalação residencial das populações objecto destes processos. Contrariamente à difundida ideia de pobreza, que pressupõe a inevitabilidade da condição de excluído, a precariedade residencial serve-nos para enquadrar situações de limitação económica e social em que a intervenção pública reclassifica e leva os intervenientes (alvos de intervenção) a se reclassificarem.
Tais dinâmicas de mudança residencial e, logo, social, observadas através destes processos, permitem clarificar que os realojados (e os a realojar) fazem uso de mecanismos de afirmação do seu "direito à habitação" em claro confronto com o pressuposto do desalojado e pobre. A precariedade residencial, para cuja definição participa objectivamente a precariedade económica, não é uma dimensão totalizante como a ideia de pobreza promove, mas parcial e inserível num conjunto de domensões que só uma observação aprofundada pode esclarecer.
Analisamos ainda nesta comunicação os discursos e as imagens conflituantes que decorrem da variedade de posições ocipadas dos participantes/"alvos" da intervenção pública no campo da habitação.

Nuno Santos Jorge

Luís Vicente Baptista