Investigação

Projecto Entre a Escola e a Família

Entre a escola e a família: conhecimentos e práticas alimentares das crianças em idade escolar

Equipa: Mónica Truninger de Albuquerque (Inv. Responsável), Ana Maria do Rosário Rei Silva Horta, Silvia Cristina Pena Alexandre Cardoso, Vanda Aparecida da Silva (Investigadoras) e 1 Bolseiro de Investigação
Instituição proponente: ICS-UL
Instituição participante: SOCIUS/ISEG-UL
Referência: PTDC/CS-SOC/111214/2009
Calendarização: 01 Abr 2011 - 31 Mar 2014
Palavras-chave: Refeições escolares, Crianças, Saúde, Práticas e conhecimentos alimentares

Sumário:

As estatísticas globais sobre obesidade e excesso de peso apontam para a existência de mais de um bilião de pessoas nesta situação, tornando-se um grave problema deste século. Esta questão é sobretudo preocupante no grupo das crianças, adquirindo contornos epidémicos: na Europa dos 25, estimativas recentes indicam que existem 22 milhões de crianças com excesso de peso, das quais 5,1 milhões são obesas. Os escassos estudos realizados em Portugal mostram que no grupo etário dos 7-11 anos mais de 30% têm excesso de peso ou são obesas. Isto é resultado de vários fatores, entre eles uma dieta alimentar cada vez mais desequilibrada, onde as gorduras e os açúcares predominam. Acresce ainda que uma parte substancial da vida da criança é, inegavelmente passada na escola, sendo crucial o seu papel e, em particular, o serviço de refeições na promoção de hábitos alimentares e estilos de vida mais saudáveis. Dada a pertinência deste tema, fortemente mediatizado, e a escassez de estudos sociológicos nesta área, tanto a nível internacional como, sobretudo, a nível nacional, este projeto visa compreender a organização e regulação dos sistemas de refeições escolares orientados para a alimentação saudável, a apropriação e os conhecimentos alimentares que as crianças têm, bem como os hábitos alimentares das famílias.
Em Portugal, assim como na Europa, o serviço de refeições escolar tem sido bastante criticado pelo fornecimento de uma alimentação nutricionalmente desequilibrada, onde vigoram produtos com índices elevados de gordura, açúcar e sal. Mais, estes produtos têm normalmente origem em sistemas agro-alimentares intensivos, com impactos nocivos no ambiente, segurança alimentar e equidade social. Acrescem ainda as preocupações acerca dos fracos conhecimentos que as crianças têm sobre alimentação e culinária e a cada vez mais ténue relação da criança com estilos de vida saudáveis.
Em resposta a estes problemas, tem vindo a ser implementada nalguns países europeus, uma reforma gradual do sistema público de refeições. Portugal não é exceção e, nos últimos anos, foram lançadas algumas recomendações governamentais para as escolas e empresas de restauração coletiva de modo a incentivar mudanças nas ementas e bufetes escolares [8]. Em paralelo, a União Europeia financiou recentemente uma iniciativa – Regime de Fruta Escolar – que visa contribuir para a promoção de hábitos alimentares mais saudáveis nas populações jovens. Portugal aderiu a esta iniciativa que está a ser implementada no ano letivo 2009/2010.
Nalguns países, estratégias para a promoção da saúde, segurança alimentar e sustentabilidade têm passado por iniciativas de relocalização das compras públicas alimentares, incentivando-se a utilização de produtos locais ou de agricultura biológica. Em Portugal, estudos recentes concluíram que existe um crescente interesse pela produção e consumo de produtos nacionais e biológicos, e que as preocupações com a saúde são centrais no consumo 'bio'.
Assim, um conjunto de questões suscita o nosso interesse em explorar melhor as articulações entre o serviço de refeições escolar, os hábitos alimentares das crianças e os das suas famílias. Como é que as escolas portuguesas têm operacionalizado estas recomendações e iniciativas governamentais? Como é que as crianças têm apropriado a alimentação escolar onde, muitas vezes, as escolas estão rodeadas de um ambiente obesogénico? Será que as crianças estão expostas a informações consistentes sobre alimentação saudável na escola e em casa? Ou serão as mensagens e conhecimentos que adquirem contraditórios?